ATA DA TRIGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 11-11-1999.

 


Aos onze dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e nove reuniu-se, no palco principal da Quadragésima Quinta Feira do Livro, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e dois minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Escritora Lya Luft e do Troféu Destaque Mário Quintana ao Médico e Escritor Moacyr Scliar, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 97/99 (Processo nº 2097/99), de autoria do Vereador Juarez Pinheiro, e do Projeto de Resolução nº 01/99 (Processo nº 03/99), de autoria do Vereador João Dib. Compuseram a MESA: o Vereador Nereu D'Ávila, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Desembargador Cacildo de Andrade Xavier, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal da Cultura; o Professor Paulo Flávio Ledur, Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, os Escritores Lya Luft e Moacyr Scliar, Homenageados; o Vereador Juarez Pinheiro, na ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Senhor Jorge César Ferreira da Silva, Procurador-Geral Substituto do Município de Porto Alegre; da Senhora Leda Geni, Secretária Municipal Substituta do Esporte, Recreação e Lazer; da Senhora Elisa Henkin, representante do Secretário Estadual da Cultura; e da Senhora Loraine Lopes, representante do Serviço Social da Indústria - SESI. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Juarez Pinheiro, em nome das Bancadas do PMDB e do PSB, historiou sobre a Feira do Livro de Porto Alegre, destacando o significado da realização, neste espaço, da presente solenidade. Discorreu sobre a vida da Escritora Lya Luft, comentando a obra produzida por essa Escritora, marcada pela denúncia de falsos valores e por uma profunda análise do ser humano. O Vereador João Dib, em nome das Bancadas do PPB e do PFL, teceu considerações acerca dos motivos que o levaram a propor o nome de Moacyr Scliar para o Troféu Destaque Mário Quintana, afirmando representar esta solenidade o reconhecimento do povo de Porto Alegre a dois escritores que produziram uma literatura de valor destacado nacional e internacionalmente. O Vereador Elói Guimarães, em nome da Bancada do PTB, registrou ser este um momento histórico para a Cidade, quando a Câmara Municipal de Porto Alegre une-se à Câmara Rio-Grandense do Livro para homenagear os Escritores Lya Luft e Moacyr Scliar, dois nomes exponenciais da literatura brasileira. A Vereadora Maristela Maffei, em nome da Bancada do PT, salientando o papel da literatura na conscientização da comunidade, comentou a obra dos Homenageados, em especial quanto a aspectos relacionados à análise social e à luta contra a discriminação e pelo reconhecimento do papel do ser humano dentro da sociedade atual. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, falou sobre a admiração que sente pelos Escritores Lya Luft e Moacyr Scliar, declarando ser este um momento singular na vida dos porto-alegrenses e classificando a Feira do Livro como "um saudável provincianismo", um momento de encontro e de "reunião da municipalidade". O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, registrou ter sido aluno do Professor Moacyr Scliar no Sanatório Partenon, momento em que constatou o profissionalismo observado na atuação do Homenageado. Ainda, afirmou que a obra de Moacyr Scliar e Lya Luft pode ser incluída entre as melhores produções literárias brasileiras da atualidade. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Paulo Flávio Ledur, que discorreu sobre o significado da presente solenidade, como momento de integração entre a comunidade porto-alegrense, saudando os Escritores Lya Luft e Moacyr Scliar e destacando a justeza da homenagem hoje prestada a Suas Senhorias. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou o Vereador Juarez Pinheiro e o Senhor José Fortunati a procederem à entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Escritora Lya Luft e convidou o Vereador João Dib a proceder à entrega do Troféu Destaque Mário Quintana ao Médico e Escritor Moacyr Scliar. A seguir, registrou a presença do Escritor Luís Fernando Veríssimo e, em continuidade, concedeu a palavra aos Escritores Moacyr Scliar e Lya Luft, que agradeceram a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta e três minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Nereu D'Ávila e secretariados pelo Vereador Juarez Pinheiro, Secretário "ad hoc". Do que eu, Juarez Pinheiro, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Nereu D’Ávila): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, aqui na Feira do Livro, para homenagear os escritores Lya Luft e Moacyr Scliar que receberam essa homenagem da Câmara Municipal de Porto Alegre por votação. O proponente do título à Sra. Lya Luft foi o Ver. Juarez Pinheiro, e para o escritor Moacyr Scliar foi o Ver. João Dib.

Compõem a Mesa: o Sr. José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Desembargador Cacildo de Andrade Xavier, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; a Sra. Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal da Cultura; o Prof. Paulo Flávio Ledur, Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, os Escritores Lya Luft e Moacyr Scliar.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

Prosseguindo esta Sessão nós ouviremos agora o pronunciamento do proponente do Título de Cidadã de Porto Alegre à escritora Lya Luft, Ver. Juarez Pinheiro, que falará pelas Bancadas do PMDB, PSB, e como proponente.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Volto no tempo, 1955, e rememoro o trabalho dos nossos pioneiros, invoco a pessoa do Vereador, jornalista e diretor do então Diário de Notícias, Say Marques, que procura uma pessoa dos livros, Henrique Bertaso, Diretor-Presidente da Livraria do Globo, que procura Maurício Rosenblat, que procura outras pessoas, e nasce a primeira Feira do Livro. Os acontecimentos que estou a narrar me parece uma corrida com passagem de bastão, vencendo obstáculos. Sim, em linhas passadas, referi-me a Say Marques, que passou o bastão para Henrique Bertaso. Este cumpriu sua parte; passou o bastão para Maurício Rosenblat. Todos de saudosa memória. Rosenblat passou o bastão para outras pessoas, e assim, sucessivamente, chegamos, por fim, aos nossos dias. E o bastão está com o Prof. Paulo Flávio Ledur e com o patrono Décio Freitas, que o passarão a outros na oportunidade.

Hoje engalana-se, mais uma vez, a Feira do Livro. Neste momento alto, voltamos à praça pública, e voltamos por várias razões evidentes. Como é sabido, apresentei o Projeto concedendo o título de Cidadã de Porto Alegre à querida Lya Luft, que meus nobres colegas de legislatura, de forma unânime, aprovaram. Também, como é sabido, apresentei o Projeto para que a entrega da honraria se desse aqui, na Praça do povo. Permitam-me, pois, citar, mais uma vez, o verso clássico que consagrou o poeta dos escravos, o grande condoreiro, Casto Alves. Assim a homenagem se dá na Praça, que é do povo, como o céu é do condor. E também os nobres colegas, de forma unânime, lá, entenderam de aproveitar aquele Projeto, transformado em lei, que aqui segue o seu destino. Hoje, neste dia radiante, homenageamos uma pessoa excepcional; uma mulher de talento, terna, apaixonada, que é um orgulho, não só da Cidade, onde vive desde 1959, mas de todo o País. A ela concedemos hoje o Título de Cidadã de Porto Alegre.

Lya Luft é professora de Lingüística, romancista e poeta, tradutora de literatura de língua inglesa e alemã. Nasceu em Santa Cruz do Sul, filha de Wally Neuman Fett e do Advogado Dr. Arthur Germano Fett, que fundou e dirigiu, em Santa Cruz, a Faculdade de Direito, cujo Centro Acadêmico leva o seu nome. Reside em Porto desde 1959. Aqui obteve os diplomas de Pedagogia e Letras Anglo-Germânicas na Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio Grande do Sul. Foi professora titular de Lingüística na Universidade Porto-Alegrense, de 1970 a 1980. Titulou-se Mestre em Lingüística Aplicada no ano de 1975. É Mestre em Literatura Brasileira e Portuguesa, título conquistado em 1978, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dedica-se atualmente à literatura e tradução de literatura de línguas inglesa e alemã, incluindo Thomas Mann, Bertholdt Brecht, Hermann Hesse, Gunther Grass, Viginia Wolf, Dóris Lessin e Bud Strauss. É viúva do ilustre lingüista Prof. Dr. Celso Pedro Luft, falecido em 1995, também Cidadão Emérito desta Cidade, com quem teve três filhos: Suzana, André e Eduardo. Iniciou sua carreira literária, escrevendo poemas e crônicas para o jornal Correio do Povo. Publicou livros de poemas, romances e novelas, tendo textos seus adaptados para o teatro.

Lya ficou conhecida por criar personagens femininas muito fortes e pela luta em favor da releitura dos valores éticos na família e na sociedade. Em seus romances, e em centenas de palestras pelo País, tem batalhado pela consciência maior da mulher e por sua própria dignidade.

Quando perguntada por que sempre fala da mulher em sua obra, ela diz que sua literatura não é de mulher para mulheres e sim uma análise do ser humano - homens, mulheres, crianças, velhos -, na aventura existencial que nos impele sempre. Embora sem engajamento político expresso, é profundamente engajada na denúncia de falsos valores no convívio social e familiar: a frieza, a superficialidade, a mentira, a hipocrisia, o preconceito e o egoísmo, que cavam abismos entre os seres humanos, lançando muitos à solidão e ao abandono. Conflitos familiares são o tema constante de sua criação. Seus livros são inquietantes, mas refletem sua inquietação como ser humano, fascinado pela vida, pelos mistérios da nossa existência e pelo nosso destino.

A Prof. Lya Luft honra o Rio Grande, honra o Brasil, afinal a sua obra já está consagrada além-fronteiras pela edição no exterior. É o caso de “Reunião de família” e “As parceiras”, traduzidas na Alemanha; “Exílio”, traduzido na Inglaterra; “A asa esquerda do Anjo”, traduzido na Itália; “ O quarto fechado”, traduzido nos Estados Unidos da América do Norte. Na Argentina, em 1980, em Buenos Aires, conquistou o prêmio Alfonsino Storn, de poesia.

Seu livro “Secreta mirada” é inesquecível para mim. Contém ensaios, prosa, poesia sobre um tema palpitante: o amor; sentimento que se apresenta cada vez como único, como eterno e perene; envolvimento que vem de uma sintonia emocional.

“Ler é descobrir!” Meu caro Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, que, juntamente com seus companheiros, escolheu esse tema como o tema da 45ª Feira do Livro.

Foi por ler Lya Luft que estou aqui, que decidi prestar esta homenagem. É por causa desta mulher inigualável que, pela primeira vez, a Sessão da Câmara se realiza como parte integrante da Feira do Livro. Vou fazer, em homenagem à Lya Luft, uma confidência. Não sei se ela é adequada à solenidade e se tem estética, mas preciso fazê-lo como desabafo, como festejo, como comemoração, como agradecimento a essa mulher, que eu considero excepcional. Sou filho de pessoas simples, trabalhadoras, que, apesar de sua insipiência cultural, sempre referenciavam, desde criança, que era importante ler para preparar o futuro. Não me falaram em sentir prazer através da leitura. Só mais tarde, lendo Lya Luft, fui sentir esse prazer, um verdadeiro orgasmo. Prazer que advém do descobrimento. Aprendi, lendo a literatura de Lya, que, em tempos difíceis, um amigo, um telefonema, uma visita, uma calçada, uma casa recordada, um talinho de grama no jardim, Ver. Sebenelo, assumem proporções nunca imaginadas. São um tesouro que não notávamos antes, quando tudo nos parecia garantido e fácil; que reencontrar a alegria será a melhor homenagem que podemos prestar a quem nos iluminou em épocas passadas; que, mesmo depois que os anos varrerem a vida, o que foi bom pode permanecer, não como uma sombra ou um peso, mas como um motivo para voltar a desabrochar; que das coisas boas e belas, que acabaram, nos vem sempre uma luz e uma capacidade de ver o mais banal com algum encantamento. Essa é a secreta mirada, que todo mundo pode ter, mas que o acúmulo de compromissos, o excesso de deveres, a exigência de sermos cada vez mais competentes e eficazes, talvez nos roube um pouco. E a paixão, embora desarrume tudo, nos tire o sono, nos tire o tapete dos nossos pés, faça com que nos defrontemos com medos e fraquezas, aparentemente superados, é maravilhosa. Sempre, em qualquer idade, alguém pode aparecer, alguém ou algo, um amor, um projeto, um sonho que nos desperta, que nos seduz e acaricia. Muitas vezes fingimos dormir, outras rimos, para que o sentimento não retorne, aquele que nos deixou em êxtase e nos jogou no poço, de onde foi duro voltar. Que perdição de amor, tão dramático quanto delicioso, e para isso não há idade nem condição. Nesse intervalo de perfeição, naufragamos com indescritível prazer, mas também morremos um pouco, porque saímos de nós para sermos esse outro, esse tudo; porque, quando o amor acabar, isso arrancará um pedaço de nós. E nós temos de sobreviver, pois há sempre, em cada um de nós, um pequeno e sagrado recinto no qual ninguém nunca antes penetrou, que há sempre uma parte de nós, que guardamos para uma pessoa especial, um encontro único, que o amor nos reinventa, quando se vai, porém, parece que se morre por algum tempo, não que não existamos sem ele, mas existimos menos. Que amar sem querer perder é para os santos, não é coisa para gente. Eis que os desejos de um podem não combinar com os do outro. Quem amamos pode não sentir-se bem em nossa roupagem ou, simplesmente, sentir-se ameaçado pelo peso desse nosso amor. Que precisamos amadurecer e aceitar as eventuais perdas, anistiar as possíveis mágoas, sentir-se inteiro depois de cada encontro e separação, respeitar a liberdade do outro, perceber a sua delicadeza. A vida não precisa ser um cochilar desalentado nem uma corrida de aflições, mas é uma incessante tarefa amorosa. Que há sempre, em algum lugar, talvez inesperado, a possibilidade de música e de vôo.

De seu livros, dois foram encenados no teatro. “Reunião de família” foi adaptado por Caio Fernando Abreu, patrono da Feira do Livro de 1995, e dirigido pelo companheiro Luciano Alabarse; “Lado fatal” foi encenado por Beatriz Segal.

Para a escritora Lya Luft seus personagens são fictícios; ela acha que pesquisar a vida de alguém e escrever sobre essas pessoas não é o seu forte; prefere a ficção, afinal, como diz, um dos segredos da felicidade é descobrir o que se gosta de fazer.

Lya Luft foi patronesse da 42ª Feira do Livro. “É uma espécie de diploma para a carreira de escritor”, lembrou naquela oportunidade em que fazia o discurso de inauguração com um belo dia de sol, como é o dia de hoje, sem a tradicional chuva de todos os anos. Pois é para essa senhora, para essa intelectual que honra a literatura pátria, que pedi aos meus caros colegas da Câmara Municipal o apoio para homenageá-la com o título em questão.

Esta homenagem aqui se formaliza, neste dia de primavera, encaminhando-se já para uma estação com suas vestes estivais.

Lya Luft, foi uma honra homenagear essa querida, agora, também porto-alegrense. Muito obrigado.

 

Sinto-me honrado também por homenagear aqui o escritor Moacyr Scliar, o que o Ver. João Dib, na sua sapiência, saberá fazer da melhor forma. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de concedermos a palavra ao Ver. João Dib, nós queremos, como o ambiente é acanhando, nominar, como extensão da Mesa, as seguintes pessoas: o Procurador-Geral Substituto do Município, Dr. Jorge César Ferreira da Silva; a Secretária Municipal Substituta do Esporte Recreação e Lazer, Sra. Leda Geni; a representante do Secretário Estadual da Cultura, Sra. Elisa Henkin; a representante do SESI, Sra. Loraine Lopes; demais familiares, autoridades e convidados. Considerem-se aqui na Mesa Diretora.

Registramos, além dos oradores que vão usar da palavra, Vereadores João Dib, Maristela Maffei, Elói Guimarães, Isaac Ainhorn e Cláudio Sebenelo, também a presença dos Vereadores Paulo Brum, Guilherme Barbosa e Saraí Soares.

Neste momento, concedemos a palavra ao nobre Ver. João Dib, que foi o proponente do Troféu Destaque Mário Quintana ao escritor Moacyr Scliar. O Ver. João Dib falará pelas Bancadas do PPB e PFL.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Disse o orador que me antecedeu que a Praça é do povo como o céu é do condor. Mas hoje a Praça é do povo e é do livro também, e pela 45ª vez a Cidade de Porto Alegre festeja a sua Feira do Livro. Como Prefeito, eu tive o orgulho e a honra de, por três vezes, abrir os trabalhos desta Feira.

Sobre o livro, Charles Beaudelaire diz o seguinte: “Toda a boa escultura, toda a boa pintura, toda a boa música sugerem os sentimentos e devaneios que querem sugerir, mas o raciocínio, a dedução, esses pertencem ao livro”. E hoje nós temos aqui duas pessoas extraordinárias que estão sendo homenageadas pelo povo de Porto Alegre, pela unanimidade de seus representantes, que são Lya Luft e Moacyr Scliar.

Eu conheci Lya Luft, vi Lya Luft, pela primeira vez, lá na Câmara Municipal, quando o seu querido esposo Celso Luft recebia o Título de Cidadão de Porto Alegre. Eu vi uma senhora alegre, feliz, com três filhos, e pensei: se alguém é tão feliz, deve escrever muito bem. Lya realmente faz isso, e nós queremos que continue por muito e muito tempo.

O nosso homenageado o Moacyr Scliar é um daqueles indivíduos que nasceu para o que faz. Realmente ele é o tal. “O Tal” era o seu jornal que fazia com que ele se dedicasse a escrever e via, como ele mesmo disse, que, com alguma arrogância, ele tinha escolhido o título “O Tal”. Mas essa arrogância estava absolutamente certa; é importante que se tenha confiança no que se faz. O Moacyr, depois disso, escreveu 50 livros - contos, crônicas, romances, ensaios -, alguns aproveitados na televisão, no rádio, e no cinema. E nós vamos querer que o Moacyr continue escrevendo muito para todos nós, porque assim nós nos esclarecemos, nós nos deliciamos. O livro do Moacyr nos dá aquilo que dizia o Beaudelaire: permite-nos o raciocínio, a dedução, algo que nós precisamos ter permanentemente.

Meu caro Flávio Ledur, a 45ª Feira do Livro tem um fato novo, para mim uma coisa nova e extraordinária: se eu já vim aqui como Prefeito, agora venho como Vereador. Eu penso que até que com muito mais vibração do que quando eu vim aqui como Prefeito, porque há um fato novo: o povo. Os seus representantes são os trinta e três Vereadores; são a síntese democrática da representação popular. Portanto, é o povo de Porto Alegre que está aqui homenageando dois dos seus queridos escritores - Moacyr Scliar e Lya Luft - e, ao mesmo tempo, homenageando a Feira do Livro, e assim, o nosso querido Paulo Flávio Ledur.

Nós queremos, querido Moacyr Scliar, querida Lya Luft, que vocês continuem produzindo, desafiando o amanhã, o hoje, escrevendo por muito tempo, dando-nos sensações profundamente agradáveis.

Moacyr, continue a escrever seus livros e continue escrevendo na Zero Hora, deliciando-nos, semanalmente, com seus artigos, que nós lemos com muita satisfação.

A todos eu digo: saúde e paz. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Dando continuidade à nossa Sessão Solene, nós concedemos a palavra ao Ver. Elói Guimarães, que fala pela Bancada do PTB.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Nereu D’Ávila. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Vereadores, familiares, pessoas já nominadas, enfim, povo que se acerca deste ato que eu reputaria histórico para a Câmara Municipal de Porto Alegre, na medida em que a Câmara Municipal se junta à Câmara Rio-Grandense do Livro e vem à Praça para, numa interação com sua Cidade e seu povo, prestar uma justa e merecida homenagem a dois nomes exponenciais da literatura rio-grandense.

A escritora Lya Luft está recebendo hoje - e o fazemos em nome da Cidade - o Título de Cidadã de Porto Alegre, ela que já era cidadã de Porto Alegre, por sua atuação na Cidade como professora, como escritora. Isso, por si só, já lhe concederia a cidadania. Ao reconhecidíssimo, ao festejado escritor, articulista, Moacyr Scliar, estamos concedendo o Prêmio Mário Quintana. Mário Quintana, o nosso grande poeta, o poeta dos nossos andares, dos seus andares nesta bela, rica e culta Cidade de Porto Alegre.

Portanto, hoje estamos aqui, quase que envolvidos pela primavera, sentindo até os aromas das folhas dos jacarandás na Praça. Castro Alves foi citado aqui, e eu vou fazer um esforço para declamar, dele, um poema em homenagem a estas duas grandes figuras da literatura, cuja fecundidade literária é do conhecimento de todos; seus talentos, sua sabedoria, que todos conhecemos, que toda a Cidade conhece. E o escritor parece tão íntimo nosso! O escritor, o romancista, mesmo que não o conheçamos pessoalmente, mesmo que com ele não convivamos, o relacionamento que com eles estabelecemos no livro os tornam tão familiares nossos, tão agradáveis, tão carinhosos, tão solidários, tão íntimos! Mas eu vou tentar, e me perdoem se eu tropeçar nos versos. Sabemos todos que a poesia, a declamação reclama concentração e ambiente. Eu vou tentar aqui, meus caríssimos Moacyr Scliar e Lya Luft, declamar, do poeta dos escravos, Castro Alves, o poema: “O Livro e a América”.

Vou fazer um esforço, e assim inicio, homenageando este grande momento, Flávio Ledur, que vamos repetir anualmente; a Câmara Municipal de Porto Alegre com a Câmara Rio-Grandense do Livro virão à Praça, anualmente, por proposição do Presidente Flávio Ledur, para esse congraçamento com a cultura, com o livro, com o saber, enfim com o descobrir, com o navegar.

 “O Livro e a América”, de Castro Alves. “Talhado para as grandezas, para crescer, criar subir: O novo mundo nos músculos sente a seiva do porvir, estatuário de colossos, cansados doutros esbouços, disse um dia Jeová: “Vai Colombo, abre a cortina da minha eterna oficina, tira a América de lá. Molhado ainda do dilúvio, qual tritão descomunal, o Continente desperta no concerto universal. Um traz-lhe as artes da Europa, outro as bagas do Ceilão, e os Andes petrificados como braços levantados, lhe apontam para a amplidão. Olhando o entorno então, brada: tudo marcha ó grande Deus, as cataratas para a terra, as estrelas para o céu. Lá do pólo sobre as plagas no seu rebanho de vagas vai o mar apascentar. Eu quero marchar com os ventos, com os mundos, com os firmamentos. E Deus responde: marchar? Marchar. Mas como, da Grécia, nos dóricos partenons, a mil deuses levantando, mil marmóreos panteons? Marchar com a espada de Roma, leoa de ruiva coma, de presa enorme no chão saciando ódio profundo com as garras nas mãos do mundo com os dentes no coração. Marchar? Mas a Alemanha na tirania feudal levantando uma montanha em cada uma catedral? Não! Nem templos feitos de ossos, nem gládios a cavar fossos são degraus do progredir, la brada César morrendo no pugilato tremendo, quem sempre vence é o porvir. Por uma fatalidade, dessas que descem do além, o século que viu Colombo viu Guttenberg também. Quando no tosco estaleiro da Alemanha o velho obreiro a ave da imprensa gerou. O genovês salta aos mares busca um ninho entre os palmares e a pátria da imprensa achou. Por isso na impaciência desta sede de saber, como as aves do deserto, as almas buscam beber. (Oh, bendita Lya Luft; oh, bendito Moacyr Scliar.) Oh, bendito quem semeia livros, livros à mão cheia e manda o povo pensar. O livro caindo na alma é germe que faz a palma, é chuva que faz o mar. Vós que o templo das idéias largo abrigo às multidões, para o batismo luminoso das grandes revoluções. Agora que o trem de ferro acorda o tigre no cerro e espanta os caboclos nus, fazei deste vento, ginete dos pensamentos, arauto da grande luz. Bravo a quem salva o futuro fecundando a multidão, num poema amortalhado nunca morre uma nação. Como Goethe moribundo, brada à luz o novo mundo num brado de briaréu. Luz, pois, no vale ou na serra, que se a luz rola na terra Deus colhe gênios no céu!”. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Vera. Maristela Maffei está com a palavra e fala pela Bancada do PT.

 

A SRA. MARISTELA MAFFEI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Professor Paulo Flávio Ledur. Eu confesso que, depois do último orador, é difícil falar, mas, mesmo assim, com toda a minha simplicidade, vou tentar dizer do sentimento deste momento. Como representante da Bancada do Partido dos Trabalhadores, eu gostaria de dizer que neste momento está sintetizado, aqui, o equilíbrio dos nossos sonhos: a Arte e a Poesia que nos fazem pensar. Porque saber não é decorar, e todos nós sabemos disso. Saber é pensar, é elaborar, é filosofar. Infelizmente, vivemos em uma sociedade em que o copiar, em que não fazer pensar, em que não ajudar a pensar é o que mais nos tem estimulado. Esta Feira significa, na prática, fazer exatamente o contrário: oportunizar, Professor Paulo Flávio Ledur, que as pessoas venham e consigam buscar um espaço de também ter opções, opções de poder, dentro dessa diversidade, formar a sua própria opinião. Que bom que, cada vez mais, homenagens como esta sejam feitas, cada vez mais próximas do povo, porque a Câmara é a Casa do povo. Tendo esse tipo de atitude na Câmara, por intermédio do Ver. João Dib e do meu companheiro de Bancada, Ver. Juarez Pinheiro que nos está proporcionando este momento. Assim também a homenagem ao nosso querido Cidadão do Mundo, hoje Cidadão de Porto Alegre, por proposição de minha autoria, Chico Buarque de Holanda, também foi feita fora da Câmara de Vereadores, o que todos nós aplaudimos e aceitamos com muito carinho.

Eu queria um minuto apenas para dizer ao Moacyr, se assim vocês me permitirem chamá-lo, o seguinte: Que bom, Moacyr, que tu nos proporcionas ao menos, no maior jornal do Estado, um espaço tão sagrado e tão importante como o teu. É uma das poucas coisas que nos restam e que nos deixas para refletir. Tomara que haja mais espaços nesses jornais, que nos possam fazer voltar à essência da alma e do corpo e que não apenas nos levem a ter uma visão do pensamento. Tu nos tens ajudado a ampliar esse horizonte. Portanto, deixo, para me dirigir um pouco mais à querida Lya.

Quero ler, Lya, da Estela Maria Valenzuela, o seguinte: “Hoje tu buscas a tua simplicidade, vives a fase da colheita, costumas dizer que não precisas mais escolher marido, educar filhos pequenos, pagar prestação da casa própria e tampouco escolher uma profissão e combater no mercado de trabalho.” Já ultrapassaste, Lya, os percalços que tornam a juventude tensa e compromissada. Sobre essa prestação de serviço tu dizes: “Eu já fiz, de maneira que agora tenho mais possibilidade de olhar para dentro de mim, tenho mais paciência e bom humor, com os outros e comigo mesmo. Que bom! As pessoas se deveriam orientar para curtir essa etapa como um privilégio. Pode-se ler, passear, fazer novas amizades e reatar as velhas.” Aqui, eu quero me deter, Lya, porque sei que tu trabalhas muito forte a questão das mulheres. “As mulheres,” dizes tu, “são mais confidentes, isso, para os homens, é uma novidade -; elas estão contentes por ter um lugar onde possam falar sobre a passagem do tempo, algo do de praxe: mulher, automóvel, dinheiro e clube de futebol.” Lya observa que “a tendência das pessoas é valorizar mais as perdas do que os benefícios: a perda da casa, da juventude, do emprego e da infância. A beleza física não se perde, se transforma. Uma pessoa madura pode ser tão bonita quanto uma jovem. É mais tranqüila, mais harmoniosa, mais natural.” Vemos que isso é verdade quando olhamos para ti, Lya. A vida é feita de perdas e ganhos, e tu também sabes o quanto isso pesa. “Depende muito de a gente sair da postura de vítima. A vida me fez isso, dizes tu, fulano me sacaneou e outro me explorou, os filhos saíram de casa, e o marido me abandonou. Parece que essa é uma posição infantil e muito fácil, mas, afinal, o que cada um está fazendo para sair dessa posição?” Lendo tudo isso, Lya, eu busquei um pouco a tua origem e dizia, um pouco atrapalhada, Diotina, na época da sociedade platônica, no que diz respeito à questão do amor, que nada mais natural que uma profetiza anciã seja encarregada de revelar os mistérios do amor. Sua missão é comunicar, é unir os seres vivos. Nessa época, Lya, nós sabemos, Platão dizia, Eros dizia, tantas coisas nos diziam, até mesmo que havia três sexos. Por que será que justamente para a mulher foi dada essa missão? O amor não é belo? É algo mais que atração humana, sujeito sim, ao tempo, à morte e à corrupção. Na Grécia Clássica, na época de Alexandria, ocorreu uma revolução invisível - e eu penso que tu és de lá, Lya -: as mulheres, encerradas no Ganisseu saem e aparecem na superfície da sociedade e na política, como Olímpia, a mãe de Alexandre; como Agnícia, mulher de Ptolomeu. A mudança, Lya, não se limitou à aristocracia, mas atingiu também comerciantes e artesãs. As mulheres, mais exatamente as patrícias, ocuparam lugares destacados na história de Roma. E nós estamos aqui, Lya, e eu sei que, nos teus versos, na tua poesia, na tua alegria, na tua dor, quando tu falas do amor, quando tu falas da vida, tu estás falando de cada uma de nós, não te colocando num pedestal, mas colocando-te como nós. Talvez seja por isto que nós te amamos tanto: porque tu nos ajudas a refletir, numa sociedade onde tu não falas apenas da mulher da classe média, onde tu falas de cada uma de nós, que somos exploradas. Num país onde as mulheres são a maioria, infelizmente nós, que já somos também donas de casa e chefes de família, ainda somos tão discriminadas e exploradas! Mas ainda temos a coragem de cantar e viver o amor!

Por isso, Lya, tu não imaginas o quanto foi a vontade que cada um da nossa Bancada tinha de vir aqui e falar. Nós tivemos de fazer um sorteio, e eu fui agraciada, talvez a luz, porque eu também, como mulher, pobre e lutadora, tenho o sonho de ajudar as outras mulheres e os homens. Nós não queremos disputas, nós queremos o nosso lugar, natural, que assim deve ser. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: A primavera, a Praça e os livros, os intelectuais, os amigos todos estão inspirando os nossos Vereadores. É uma beleza, é bom. Estamos na Praça, estamos felizes!

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra. Fala pela Bancada do PDT.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. (Saúda os componentes da Mesa.) Meus colegas Vereadores, amigos que se encontram aqui na Praça, este é um momento singular. Uma coisa eu prometo de plano, e como a Feira é do Livro, vou parafrasear um filósofo que dizia que “a clareza é a cortesia do filósofo”, e eu vou dizer que a brevidade será a cortesia do político.

Eu quero dizer, meu querido Lauro Schirmer, que há, aqui na nossa Porto Alegre, que comemora 44 anos de Feira do Livro, um pouco de um gostoso provincianismo, de um amado provincianismo, que faz com que o hoje universal Moacyr Scliar venha diariamente à Feira do Livro. Nós o encontramos, encontramos a Lya, os amigos que convivem com eles. Hoje nós estamos conseguindo fazer algo também provinciano, mas muito singular, maravilhoso e universal, que orgulharia qualquer grande cidade do mundo: a reunião da Municipalidade, do Conselho da Cidade, numa Praça, na Feira do Livro para a realização da qual a Câmara Municipal teve um papel muito importante, aqui já referido pelo autor de uma das homenagens, o Ver. Juarez Pinheiro. A Feira do Livro nasceu de uma feliz idéia do saudoso Ver. Saí Marques, jornalista que veio para cá, fascinado com a Feira que acontecia no Rio de Janeiro. Ele se encontrou, conforme o nosso editor Lima me relatava aqui, há pouco, com o Mário de Almeida Lima e com o Maurício Rosenblat “Mas que maravilha aquele negócio da Feira do Livro.” E de lá, ainda na provinciana Porto Alegre, saíram em direção à Livraria do Globo para falar com o José Bertaso: “Temos que fazer a Feira do Livro.” Ela saiu e é isso aí! A Feira do Livro, Paulo Flávio Ledur, é um desafio muito grande para todos nós - eu digo “para todos nós” porque todos nós nos encontramos engajados neste Projeto Feira do Livro em Porto Alegre, hoje na 45ª edição. Como vai ser difícil fazer a 46ª Feira do Livro, porque esta se superou em todos os aspectos, e hoje nós conseguimos, aqui, numa tarde maravilhosa, com a assistência do público, com uma Feira repleta de pessoas, com figuras muito ligadas à Cidade, prestar uma homenagem a duas pessoas muito caras à cultura rio-grandense e à cultura brasileira: à Lya Luft, essa escritora hoje internacionalmente reconhecida, a quem é conferida a cidadania, de direito, porto-alegrense, e ao Moacyr Scliar.

O Moacyr, eu menino, bem menor que ele - porque eu sou bem mais moço que o Moacyr (risos) -, ia, ao lado da minha casa, no Bonfim, ao lado do Bar do João, à casa do seu tio, um outro amante dos livros, Henrique Scliar, para mostrar as suas composições literárias e para conhecer o Jorge Amado. Pois é dentro desse quadro, dentro desse ambiente tão nosso, tão próprio, que nós, hoje, prestamos, como instituição, como Legislativo Municipal de mais de dois séculos de existência, uma instituição política profundamente arraigada na vida da Cidade, esta homenagem a vocês dois. Eu não me atrevo a dizer, como aconteceu lá no Julinho, onde um líder estudantil disse assim: “Nós estamos aqui ambos os dois.”

É um momento muito singular da vida da nossa Cidade nós hoje podermos estar aqui prestando esta singela, mas maravilhosa homenagem, que vai ficar marcada na memória de cada um de nós, dos nossos homenageados, de cada um dos que estão presentes aqui, de tudo isso que está acontecendo e que nós, com singeleza, com simplicidade, conseguimos construir no decorrer dos anos. E ainda fizemos com que o Presidente do Tribunal de Justiça descesse do alto da Praça da Matriz - não é mais na Praça da Matriz; é na Avenida Borges de Medeiros -, onde trabalha em seu gabinete, cheio de despachos da maior relevância e importância para a vida do Estado, da Cidade, para vir aqui prestigiar este evento. Tudo isso, para nós, meu caro Ver. João Dib, autor da segunda homenagem, é muito importante e muito marcante.

A única coisa que quero, meu caro Vice-Prefeito, José Fortunati, é que haja um compromisso de quem venha a ser o Prefeito de Porto Alegre no terceiro milênio: que nós, definitivamente consigamos fazer com que o Centro de Porto Alegre, a Praça da Alfândega sejam, nos seus 365 dias, o que está sendo agora com todos nós aqui, neste momento. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra. Fala pela Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Ilustres autoridades já nominadas, Moacyr Scliar e Lya Luft, eu vou primeiro falar com Moacyr Scliar, que, além de um querido amigo, foi a pessoa que, no meu primeiro dia de formado, me deu a primeira aula de Medicina, no antigo Sanatório Partenon. Ele era mais jovem do que eu, mas era um professor de mão cheia, e nós, engatinhando na vida, tivemos a ventura de sermos alunos, naquela época, da enfermaria inesquecível do Professor Rubens Maciel, onde fui aluno de grande professores, como: Mário Rigatto, Antônio Azambuja, Ana Maria Maciel Alves, e Moacyr Scliar no quarto ano. No sétimo ano, Moacyr Scliar me insinuou pelos caminhos de uma das profissões mais lindas e com grande conteúdo de humanidade, conforme podem o Moacyr Scliar e o Dr. Telmo Kruse guiar tantos alunos e tantas pessoas. O Moacyr Scliar era um profissional da mais alta qualidade como clínico, como internista. Depois, passou para a saúde pública, onde teve um destaque maior ainda. O Rio Grande deve a ele tantas organizações, tantos institutos dentro da Secretaria da Saúde. Muitos deles, por essas coisas da vida, não existem mais, mas deveriam existir para sempre. Mas, o que mais me emociona em Moacyr Scliar, além de seu exemplo de vida, é um livro dele chamado “A Orelha de Van Gogh”, dentro do livro o conto que lhe dá o nome. Scliar, eu tomei a ousadia de citar o título de teu livro em uma poesia minha, que fiz quando estava na banca de admissão dos residentes lá do Hospital em cirurgia torácica. Eu tinha, há dois anos, um celular no bolso e nunca o tinha usado, não conseguia usá-lo. Hoje, ele é um instrumento de trabalho maravilhoso.

O título da poesia é 011 - 0800 9595: “Sou solidário com meu celular em abandonar-se, solitário, incerto, em certo lugar deste microtônico mundo, a si e a seu ciúme, (que o humilha), da linda e sectária, secretária eletrônica, cuja sensualidade, digital, anglo-saxônica, foi seduzida por um carregador de pilha, da forma mais noturna e obscena. Pousada em cima, acinte de quem, grávida de energia, segue power-dando no dia seguinte, pra todos os continentes, o ar motorola de sua graça, e a voz charme-veneno recebe cantadas taradas dos amigos. Rosa devassa, antegoza o vibrate only, das chamadas despertar, ou no teatro, rrriiing bem no meio do primeiro ato, low battery, a dramática search e o inferno da cobrança indevida. É da vida o suave apertar do dedo, function, menu, clear, o levar à orelha, (do Van Gogh ou do Scliar ?) acende o send, e o end ascende à avenida onde o voyeur da fibra óptica vibra trrrins, stop, play e, é claro, te espia nua! E eu, busy, no messages, à inútil espera da única microonda que me interessa - A TUA.” Essa é a poesia que eu tive a ousadia de dizer para vocês e que, jamais, na minha vida, teria a coragem de publicar. Esta é, talvez, a grande homenagem ao grande escritor Moacyr Scliar.

Caríssima Lya, escrever uma homenagem a uma amiga escritora e, ainda, ler o cometido a um público tão seleto, só mesmo superando um sentimento agorafóbico, tamanho o temor crítico e o grau de exposição. Mas tudo é superável quando a nossa Cidadã é uma das melhores produções literárias do nosso meio, já tão rico, tão fértil, tão festejado nas já tradicionais Feiras do Livro, que, no ano passado, teve como patronesse, justamente, Lya Luft.

Uma das pessoas mais sensíveis e portadora de um agudo feeling crítico, Lya, é o Vereador e advogado Juarez Pinheiro. Na labuta diária, lado a lado, além da profunda admiração que lhe dispenso, foi meu companheiro de diretoria de uma das maiores instituições sociais que já tive oportunidade de conhecer na minha vida: o Grupo Hospitalar Conceição. Na intimidade de um trabalho intenso e longo, pude avaliar e perceber uma de suas características: seu elevado nível de exigência, inclusive intelectual.

É baseado nesse nível de exigência do inspirado autor desta proposta que eu o felicito pela escolha do teu nome para a galeria dos eméritos de Porto Alegre. Lá, da linda Santa Cruz, teu cerne, tua raiz, escolheste uma cidade para viver. A biblioteca do teu pai foi o local de inoculação do vírus literário, cuja vacina antiletra, graças a Deus, ainda não foi descoberta.

Porto Alegre te acolheu, e hoje é para nós, especialmente para os seus habitantes, um privilégio, no dia-a-dia banal, poder encontrar, amiúde, nas ruas do bairro, no supermercado, nas casas dos amigos, uma pessoa que foge ao comum, pelo talento, pela produção e pela visão integrada de mundo, mesmo aquele mundo que não enxergamos - e aqui eu me refiro às profundezas das entrelinhas, ao abstrato que preside o homem, ao seu inconsciente, às suas contradições, à sua pequenez e grandiosidade, ao glorioso e ao miserável que há em cada um de nós, ao antropológico familiar, base de uma sociedade que transparece em cada obra por ti produzida.

É indiscutível a contribuição desta mulher para a humanização do convívio. Aqui, Lya, gostaria de fazer um parênteses. (Nele internalizo minhas preocupações, como político, com a sociedade em que vivemos, de conversar contigo sobre a busca de um País que preencha, a curto passo, pelo menos as necessidades mínimas da dignidade de uma vida, de uma população excluída do processo econômico, e pior, desesperançada. Quem sabe esses menos aquinhoados estejam a necessitar de uma “maternagem” em que o feminino represente um acréscimo ético em seu mundo de desencanto?)

A cada livro que leio, cada vez mais me convenço de que, se tratarmos o indivíduo, melhoraremos em muito o nosso coletivo, sem paradoxos, ou melhor, com contradições intensas, sem serem, obrigatoriamente antagônicas, ou sendo-o, muitas vezes consideradas apenas complementares.

Uma cidade, Lya, é um coletivo, com geografia de curvas delineadas, com órgãos que interagem sincronicamente, com coração - alguma coisa que pulsa e preside a Cidade, carinhosamente -, com técnicos e políticos teimando em engessar suas ruas com botecos que permitem exteriorizar o sentimento de um povo e com esquinas - todas as esquinas deveriam ter nomes próprios, serem obrigatoriamente pontos de reencontro com inúmeros amores que tivemos - que demarcariam nossos fins e nossos princípios. Cada esquina deveria ser um fim e ser um recomeço.

 Uma cidade é uma mistura de bêbados e equilibristas, eufóricos e depressivos, colorados e gremistas, chatos e atraentes, massagistas, locutores, manicuras, coveiros, padres, engraxates, fresadores. Uma cidade é cada um de nós, uma cidade somos todos nós. Por isso, Lya, para melhor escolha precisamos primeiro conhecer, depois invadir, provar, gostar e, entre aspas, ficar. Como um amor, até concubino, mas bem correspondido.

É claro que as seduções podem ser profundamente físicas, explícitas, como o pôr-do-sol, o rio, o minuano, as suas elevações, o Laçador, mas tem o ar, Lya, o ar do Quintana, sutil, esse “ar que mais parece um olhar”, e tem um mistério, “um mistério suave e amoroso” que só será decifrado na última hora, do último dia, do último milênio.

Até lá, todas as vezes em que caminhares nas ruas de Porto Alegre, para decifrar esse mistério, ouvirás de suas pedras vozes, ora jograis, ora melódicas por onde o teu caminhar as transforme em sonhos.

Abrir aspas ... Lya Luft. “Nunca pergunta a ninguém se quando em meu estado de sonho pairo um pouquinho acima do chão. Isso não me tornaria menos viva, nem menos real.” Fechar aspas.

 Isto mesmo, Lya, nós queremos, Porto Alegre quer a Lya Luft, viva, real e sonhadora. A Lya Luft de sempre. Exatamente como tu és: madura, autêntica e sagaz. Toleramos, entretanto, um discreto grau de levitação, que só a certos autores é permitido. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Conforme venho registrando, este pôr-do-sol maravilhoso da nossa Cidade, que é um dos nossos orgulhos, inspirou a todas as nossas vozes hoje; poético, como exige a nossa Feira, nesta tarde lindíssima de primavera.

Nós temos agora a satisfação de conceder a palavra, até num gesto abrangente da nossa invasão à Feira do Livro, ao Presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Prof. Paulo Flávio Ledur.

 

O SR. PAULO FLÁVIO LEDUR: Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Nereu D’Ávila. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Para nós, da Câmara Rio-Grandense do Livro, este é um momento muito especial, eu diria histórico até, por receber os representantes do nosso povo, aqui, entre nós, entre, talvez, a parte mais preciosa da população de Porto Alegre, porque são as pessoas que gostam de livro. E pessoas que gostam de livros são pessoas especiais, são estas pessoas que aqui estão caminhando pelas alamedas da Feira do Livro.

Prezados Vereadores da Cidade, intelectuais, amigas e amigos do livro, nós queremos saudar este momento, uma iniciativa que partiu da Câmara de Vereadores, mas que foi apoiada por outra Câmara, sendo, portanto, um momento bicameral. É um momento bicameral para homenagear dois dos nossos mais legítimos representantes das letras gaúchas, brasileiras e mundiais; dois representantes daqueles, que, na classificação de Mário Quintana, são muito especiais. Por que eu cito Mário Quintana? Mário Quintana não é apenas uma fonte, uma menção ao Prêmio que é concedido ao Moacyr Scliar; Mário Quintana freqüentava diariamente a Feira do Livro, assim como fazem os nossos escritores. Ele participava de todas as sessões de autógrafos. Não sei se neste ano ele participaria já que são quinhentas e quinze as sessões! Quem sabe, sim. Mas Mário Quintana tinha uma classificação que me ocorreu enquanto ouvia os oradores, muito interessante. Dentro daquela sua simplicidade, argúcia e daquele jeito maroto de ele ser, como nós o conhecemos, aqui, ele classificou os livros em dois tipos: os que esgotam o leitor e os que o leitor os esgotam.

Esses dois autores são daqueles que os leitores esgotam seus livros.

Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Chegamos ao momento culminante desta Sessão Solene: a entrega do Título honorífico de Cidadã de Porto Alegre à escritora Lya Luft.

Solicito ao Ver. Juarez Pinheiro, proponente desta homenagem, que proceda à entrega do Título à escritora Lya Luft, nossa homenageada.

 

(Procede-se à entrega do Título.) (Palmas.)

 

Solicito ao Vice-Prefeito José Fortunati que proceda à entrega da medalha à nossa homenageada.

 

(Procede-se à entrega da medalha.) (Palmas.)

 

Solicito ao Ver. João Dib que proceda à entrega do Troféu Destaque Mário Quintana, conferido ao ilustre escritor Moacyr Scliar.

 

(Procede-se à entrega do Troféu.) (Palmas.)

 

Concedo a palavra ao consagrado escritor Dr. Moacyr Scliar.

 

O SR. MOACYR SCLIAR: Vou dispensar os excelentíssimos isso, excelentíssimos aquilo. Eu não consigo chamar o Fortunati de excelentíssimo. Eu vejo o Fortunati de calção, jogando basquete; não posso achar que ele é excelentíssimo. Ele é excelente no basquete; excelentíssimo, não.

Não vou usar excelentíssimo por uma outra razão muito mais importante: é que eu me sinto no meio de amigos. Realmente, todas as pessoas que eu vejo fazem parte da minha vida. Em especial, eu quero mencionar, o Ver. João Dib, que é um porto-alegrense, desses que fizeram a história da nossa Cidade. A gente não pensa Porto Alegre sem o João Dib, visualizando, planejando e propondo coisas para esta Cidade.

Quero fazer uma menção especial ao homem que dá o seu nome ao prêmio: o Mário Quintana. Já foi dito que o Mário também era parte desta Cidade. Não era porto-alegrense, mas ele se integrou completamente a esta Cidade.

Lembro-me de um episódio, a respeito do Mário Quintana em Porto Alegre, que é muito significativo. Uma vez veio aqui um escritor carioca, o Marques Rebello, que era jornalista também. O Mário, que foi o cicerone do Marques Rebello, resolveu mostrar o que a gente sempre mostra aos visitantes: o crepúsculo de Porto Alegre. Era esta hora da tarde. O Mário levou o escritor ao Morro da Televisão. Mostrou o belíssimo crepúsculo de Porto Alegre. O cara não dizia nada, só olhava o crepúsculo. Ele voltou para o Rio de Janeiro e escreveu uma crônica, dizendo que eles não têm nada para mostrar e ficam mostrando aquele crepúsculo deles. Mas Marques Rebello estava completamente enganado. Ele é que não viu o que a gente tem para mostrar, porque, se ele morasse em Porto Alegre, ele saberia que nós temos muita coisa para mostrar.

Neste momento, vejo um homem que está voltando de Paris para Porto Alegre. Ele, o porto-alegrense Luís Fernando Veríssimo, pode dizer que temos muitas coisas para mostrar. (Palmas.)

Eu sou porto-alegrense. Nasci e me criei no Bairro Bom Fim. Foi no Bairro Bom Fim que eu comecei a rabiscar as minhas primeiras redaçõezinhas. Poemas, não, nunca fiz poema, desse crime ninguém me acusa. Escrevia aquilo que eu imaginava que era o equivalente ao que os meus pais faziam. Meus pais eram grandes contadores de histórias. Imigrantes, muito pobres, que vieram para cá, que fizeram do Brasil a sua casa, que criaram aqui uma família e tinham um prazer imenso em contar histórias. Foi esse prazer que eu acredito ter herdado. Eu mostrava o que escrevia para todas as pessoas do Bairro Bom Fim e todo mundo dizia: “Este aqui vai ser o nosso escritorzinho”. Acreditem ou não, eu nunca quis ser outra coisa, eu sempre quis ser o escritorzinho do Bairro Bom Fim, eu queria escrever para aquela gente. Eu queria escrever para essa gente que está aqui, que nos olha e que acompanha esta cerimônia com paciência que eu, sinceramente, admiro. Cerimônias são cerimônias, e essas pessoas são as que realmente fazem a alegria e a realização do escritor.

Quando eu recebo um Prêmio, dado pela minha Cidade, eu me sinto mais do que gratificado, sinto-me, realmente, realizado. Se eu puder dedicar esse Prêmio a alguém, eu dedico a uma mulher, que morreu há tanto tempo, mas cujo espírito, seguramente, está aqui presente, que me ensinou a ler e ensinou a escrever e que, aqui, no meio desses livros, ela sentir-se-ia em casa, que foi a minha mãe.

Muito obrigado por esta homenagem que me tocou profundamente. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registro a presença do ilustre escritor, consagrado por todo o Brasil e pelo exterior, Sr. Luís Fernando Veríssimo, filho de uma figura legendária do Rio Grande do Sul, autor de O Tempo e Vento, Érico Veríssimo.

Concedo a palavra à nossa homenageada escritora Lya Luft.

 

A SRA. LYA LUFT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando a gente vai ficando mais velha, a gente começa a ser homenageada, ou, quando a gente começa a ser homenageada, é porque a gente está começando a ficar mais velha. É uma coisa meio ambígua. A gente se sente contente e começa a ficar desconfiada.

Esta é, com certeza, a homenagem que mais me toca o coração, porque ela me é dada pela cidade que eu adotei. O meu namoro com Porto Alegre é um namoro que vem desde a minha infância, e, aos meus sessenta e um anos, a minha Cidade entendeu a minha corte e resolveu, digamos, me pedir em casamento, com esse Título de Cidadã.

 As minhas primeiras lembranças de Porto Alegre são de muito pequena, quando eu morava em Santa Cruz. Meu pai era daqui, tinha uma parte da família aqui. Nós vínhamos a Porto Alegre muito seguido. Para mim, Porto Alegre era um mistério, porque nós ficávamos num hotel que, naquela época, era a coisa mais chique de Porto Alegre, o Hotel Yung. Ali, de alguns andares, eu via coisas que não existiam na minha cidadezinha. Por exemplo, os primeiros sinais de néon, ou qualquer coisa, aquilo piscava durante a noite. Os edifícios - em Santa Cruz não havia edifícios. Alguma coisa me dizia que esta Cidade um dia ia ser a minha Cidade. Mesmo quando criança, sem saber verbalizar, eu sempre tive uma ligação especial com este lugar.

Primeiro, eu passei, aos dezesseis anos, um ano interna no Colégio Americano, depois, aos dezoito, dezenove anos, vim para cá definitivamente fazer faculdade. Menina do interior, lembro-me de não saber que curso fazer, que vestibular escolher. Então, na minha doce arrogância da minha juventude, marquei uma audiência com o Irmão Otão, Magnífico Reitor da PUC. Ele era muito grandão, me olhou, e eu lhe disse: “Irmão Otão, eu venho do interior, meu nome é tal, eu queria fazer faculdade, mas eu não sei para o que eu sirvo”. Ele deu uma risada, me olhou e me disse: “Mas que segundo grau a senhora fez?” “Eu fiz Escola Normal”. “Então, faça Pedagogia”. Eu disse: “Mas tem matemática? Se tiver matemática, eu não posso fazer”. Ele disse: “Tem, mas é pouco...”.

De maneira que eu vim morar em Porto Alegre introduzida dessa maneira engraçada e que determinou a minha vida, porque, exatamente, na PUC, eu conheceria, depois, aquele que foi o meu marido, pai dos meus filhos, já falecido, que foi o meu guru, e continua sendo o meu guru intelectual até hoje. Ele foi realmente, junto com meu pai, a grande figura que marcou a minha vida intelectual, se eu tenho alguma. Então, o Celso, especialmente, eu quero homenagear aqui, hoje; homenageio também meus filhos; de um modo especial, aquelas duas mulheres, que foram minhas duas avós: a materna e a paterna. Elas eram donas de casa, em Santa Cruz, mas que eu me lembro de vê-las, nas suas horas de lazer, sempre lendo. Havia livros na nossa casa, havia livros nas casas das minhas avós. De maneira que essa foi a minha marca.

Esta homenagem concedida, tornando-me Cidadã de Porto Alegre, na Feira do Livro, realmente, reúne os meus dois grandes amores, as minhas duas grandes paixões: a Literatura e esta Cidade.

Agradeço, mais uma vez, ao Ver. Juarez Pinheiro e aos outros Vereadores que votaram. Quero dar um beijo muito amoroso ao meu colega de homenagem Moacyr. A gente se vê pouco, mas a gente é irmão. Agradeço às pessoas que estão aqui. Esta é uma Cidade privilegiada, porque em poucas cidades do mundo se poderia fazer um acontecimento tão extraordinário, de cujo significado vamo-nos dando conta, onde uma Câmara de Vereadores sai do seu recinto sagrado e vem para um outro recinto sagrado, que é o lugar do livro, onde você pode, na verdade, fazer todos os cursos, fazer todas as viagens, conhecer todas as pessoas e conhecer mais a si mesmo.

Agradeço, estou muito emocionada. A medalha é linda; o diploma é maravilhoso! Estou muito feliz. Muito obrigada por tudo. (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a todos pela presença.

Convidamos os presentes para ouvir o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h53min.)

 

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